05/11/2021

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por: Editorial Blanchet

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Categorias: Artigos

O mix de diversidade apropriado para empresas do futuro

Terceiro e último artigo da série do GT Conselho do Futuro fala sobre como escolher um conselho que represente

Nos dois artigos anteriores desta série – o primeiro sobre macrotendência e o segundo sobre o papel do conselho– mostramos que as premissas objetivas básicas para as organizações do futuro abraçarem a inclusão da diversidade estarão presentes – e até mais consolidadas – nos próximos anos/décadas. Esclarecemos também que esta inclusão não pode se limitar ao conselho e corpo diretivo, mas deve permear a organização como um todo para ser uma inclusão de sucesso, sendo que o conselho, por meio do seu exemplo e ação, deve promover essa mudança cultural na empresa.

 

Neste terceiro artigo, último da série, buscamos dar algumas recomendações para que a organização diversa e inclusiva possa compor seu board seguindo critérios objetivos. Cumpre lembrar que este é um assunto em constante discussão e não existem ainda regras consolidadas. Restringimos nossos comentários aqui ao Conselho de Administração, apesar de termos afirmado que é importante que a organização abrace a diversidade como conceito, porque, como já dito várias vezes: “O tom vem do topo”.

 

É importante frisar que, verificadas as premissas desenvolvidas nos artigos anteriores, neste ponto do conselho do futuro a inclusão de diversidade passará a ser um objetivo estratégico da organização, a ser considerado junto às competências técnicas e comportamentais requeridas para o exercício da função. Provavelmente, no procedimento de escolha de candidato para o conselho, será normal um trade-off que se caracteriza em uma ação econômica que visa à resolução de problema, mas acarreta outro, obrigando uma escolha. Ocorre quando se renuncia a algum bem ou serviço distinto para se obter outro bem ou serviço distinto. Assim, entre as várias competências, a caraterística de ser diverso terá um peso – que dependerá do momento e do estágio de maturidade para com o tema de cada empresa.

 

Os fatores a se considerar na formação desse Conselho “diverso”, uma vez que a empresa decida iniciar essa jornada, a nosso ver são os seguintes:

 

1) Não existe dúvida de que a inclusão da diversidade tem muito a ver com o tratamento digno de grupos minoritários e com o respeito às profissões. Nesse sentido, existe um profundo significado ético na incorporação de políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI)  na empresa. Importante lembrar que o principal dever dos dirigentes é para com os seus stakeholders de forma equilibrada, portanto, devem tomar o devido cuidado para que uma política de DEI sem muito planejamento, precipitada ou elaborada por simples “modismo”, acabe prejudicando a empresa no curto prazo, desmoralizando até o próprio conceito de diversidade na organização e frente aos stakeholders. No futuro ficará claro que empresas que tenham usado do diversity washing e do tokenismo para tentar aproveitar a “moda da diversidade”, terão prejudicado não só a sua reputação, mas também, como consequência, a de todos seus stakeholders e eventualmente outras empresas que levaram a sério os programas de diversidade e inclusão. Vale lembrar que diversity washing é um termo criado por Liliane Rocha (consultora em D&I) com base no conceito de greenwashing, para identificar práticas ou ações de empresas, governos e outras instituições que se apropriam de questões relacionadas à temática para ganharem posicionamento em marketing e comunicação, sem que de fato, realizem ações concretas para a inclusão da diversidade. Enquanto isso tokenismo é a prática de fazer apenas um esforço superficial ou simbólico para ser inclusivo para membros de minoria, especialmente recrutando um pequeno número de pessoas de grupos sub-representados para dar a aparência de igualdade racial, ou de outros pilares de D&I, dentro das empresas.

 

2) Cada organização tem a sua realidade que em parte a faz única; a maior velocidade na introdução da diversidade no Conselho dependerá de algumas questões prévias:

 

*A empresa que opera na “linha de frente” do mercado, mais perto do consumidor, precisa entender claramente as tendências e preferências, prever as necessidades (até mesmo antes que o consumidor as exprima) e definir uma estratégia de pricing (precificação) adequada ao seu mercado atual e futuro. Incluir diversidade representativa desses mercados no Conselho de Administração ajuda certamente a formular estratégias de menor risco e maior impacto. Empresas situadas perto do início da cadeia produtiva – sobretudo nos segmentos industriais – também precisarão incluir diversidade que aportem conhecimento tecnológico e que consigam enxergar através da cadeia de valor os possíveis movimentos da indústria como um todo, como: diversidade de faixa etária, especialização profissional, gênero, serão importantes para estes segmentos.

 

*Deverão ser evitados os “pretextos” para impedir ou procrastinar a inclusão de diversidade no Conselho. Sobretudo porque tais pretextos são normalmente identificáveis como tais pela população da empresa e pelos analistas do mercado, e isto pode ensejar consequências negativas. Dito isso, porém, também é verdade que as empresas apresentam diferentes urgências e estabelecem as prioridades daquele momento. O importante é que a empresa, no momento em que se sentir preparada e disposta a abraçar de forma genuína a inclusão da diversidade em seu Conselho, esteja aberta para fazê-lo com a profundidade necessária para que não sejam apenas ações pontuais que não geram valor à longo prazo para a organização e demais stakeholders.

 

*As empresas têm legados, sobretudo quando são empresas de sucesso. Modelos de decisão característicos da organização podem ser alterados e podem produzir hesitações ou longas discussões, quando novos membros, com visões muito diversas, são incorporados ao board. Importante será realizar a reconstrução do conselho em forma paulatina e não radical. Portanto, olhando para o futuro de forma estratégica, será imprescindível enxergar as transformações econômicas e os anseios sociais que, a partir de novas perspectivas, de alguma forma impactaram no modelo de negócios da organização.

 

3) Para cada necessidade e momento, existe uma diversidade de competências possíveis. O Conselho é um órgão colegiado restrito e a média de membros é de 7 a 9 conselheiros. Portanto, é impossível incluir toda a diversidade desejada na composição do Conselho. Faz-se necessário estabelecer um conceito que deve ser claro: no processo de seleção de conselheiro para composição de um Conselho diverso, é preciso considerar que diversidade no conselho é e será primordialmente um tema de inclusão via “não exclusão”. Ou seja, definida a estratégia de diversidade que se pretende implementar, aquela considerada necessária para atingir os objetivos da organização, deve-se incorporá-la sem nenhuma posição prévia de preferência, nem de exclusão por preconceito. Isto deve ser parte da nova cultura para toda a organização, e certamente para o Conselho de Administração.

 

4) Para ajudar na identificação das diversidades “necessárias” que deverão compor o mix do Conselho de Administração, podemos fazer uma primeira grande classificação em dois critérios:

 

  1. a) Diversidades consideradas essenciais para a estratégia da empresa. Exemplos: diversidade geracional, tecnológica, de origem social, de especificidades profissionais do negócio, de conhecimentos específicos dos mercados de atuação, etc.

 

  1. b) Interseccionalidades às anteriores, que podem ser também críticas em alguns casos, e que atendem mais aos aspectos éticos do conceito. Exemplos: diversidade de gênero, de raça, de orientação sexual, de religião, de pessoas com deficiência (PcDs), etc.

 

Na seleção de candidatos a membros do Conselho de Administração, é muito importante que, uma vez definida a diversidade essencial (tipo A) necessária para ajudar a desenvolver a estratégia de crescimento da empresa, não exista nenhum fator inibidor para as interseccionalidades (tipo B). Esse processo de escolha refletirá a verdadeira aplicação do princípio de inclusão também via “não exclusão” acima mencionado, mantendo as vantagens competitivas que farão da empresa uma empresa com propósito, aumentando as suas chances de sucesso e perenidade.

 

Leia também os outros dois artigos da série:

 

O papel do conselho de administração do futuro para criar a cultura de empresa inclusiva

 

Macrotendência: inclusão de diversidades no conselho de administração

 

Autores: Alberto Messano e Gabriela Blanchet, integrantes da Comissão Conselho do futuro do IBGC.